"Se alguém entende realmente o corpo, entenderá também a mente. Se entender realmente a mente, também entenderá a alma. Porque a realidade que está por trás é só uma." Adi Shankaracharya.
A mente é um vasto universo onde pensamentos, emoções e memórias coexistem e moldam nossa experiência de vida. Entender como ela funciona é o primeiro passo para transformá-la em uma aliada na busca por equilíbrio, bem-estar e realização pessoal.
Neste texto, vamos explorar os diferentes aspectos da mente sob a luz da tradição do Yoga, oferecendo ferramentas práticas para cultivar clareza, resiliência e um profundo senso de quem somos.
Entendendo a Mente Humana
Meditar é observar a própria mente. É uma prática que nos ajuda a compreender não apenas os mecanismos da nossa mente individual, mas também como funciona a mente humana de maneira geral. Por meio dessa observação, podemos conhecer mais intimamente a mente, superar as barreiras que acreditamos nos limitar e avançar em direção a uma visão mais clara de quem realmente somos.
No Sânscrito, Antaḥkāraṇa é o termo usado para descrever o que, no Ocidente, chamamos simplesmente de "mente". Contudo, segundo a tradição do Yoga, a mente é dividida em quatro partes:
Manas: a mente cognitiva, responsável pelos sentidos e pensamentos.
Buddhi: o intelecto, que discerne e toma decisões.
Ahaṅkāra: o ego, ou senso de individualidade.
Citta: a memória, onde se armazenam experiências passadas.
Ao meditar, aprendemos a levar nossa consciência a essas diferentes partes da mente. Isso nos permite criar um distanciamento saudável, reconhecendo o que é mente, intelecto, ego ou memória — e, mais importante, o que realmente somos. Esse processo desperta a consciência do verdadeiro Eu.
A Meditação e a Reprogramação da Mente
A prática meditativa também nos auxilia na reprogramação mental e na mudança de hábitos. Gradualmente, substituímos condicionamentos negativos ou limitantes por novos padrões mais alinhados com nosso crescimento. Compreendemos que a mente tem a capacidade de co-criar a realidade, e, assim, iniciamos um profundo processo de cura.
A meditação é uma formidável ferramenta para observar a si próprio e conhecer sua verdadeira dimensão, nos ajuda no “dar-se conta" que quem realmente somos, no reconhecimento de nossa verdadeira natureza. Nos ensina a arte de viver consciente e harmoniosamente.
Segundo Thurman Fleet, até os 6 anos de idade, nossa mente opera predominantemente em ondas alfa, funcionando de forma receptiva, como um gravador que registra tudo o que sentimos, ouvimos e vemos. É nesse período que se formam os primeiros hábitos e crenças, moldando nossa percepção e comportamento de maneira subconsciente.
Após essa fase, a mente consciente começa a atuar com mais intensidade, mas a mente subconsciente continua operando ao longo de toda a vida, armazenando e influenciando nossas crenças, padrões de comportamento e reações emocionais.
Através da prática da meditação, podemos acessar e re-programar esses padrões subconscientes, que, muitas vezes, operam de forma inconsciente, afetando nossas decisões e respostas emocionais.
“Cada um de nós escolhe o que é aceitável na sua vida. Quando somos crianças, não temos muitas opções. Nascemos em determinadas famílias e situações e isso está totalmente fora do nosso controle. No entanto, à medida que vamos ficando mais velhos, podemos escolher. Consciente ou inconsciente, decidimos como é que vamos permitir que nos tratem. O que vamos e o que não vamos aceitar. Vamos ter de escolher e de nos defender. Ninguém mais o pode fazer em nosso lugar.” Dr. James R. Doty em “Dentro da loja Mágica.”
Consciente e Subconsciente
De acordo com a psicologia, a mente é composta por duas partes principais: o Consciente e o Subconsciente.
Consciente (10%)Representa cerca de 10% da mente. É a parte responsável pelo raciocínio, planejamento, análises, julgamentos e organização. O consciente está ativo no momento presente, avaliando e processando as informações. Também é responsável pela memória de curto prazo e pelas decisões críticas, diferenciando entre certo e errado, bom e mau.
Subconsciente (90%)Os outros 90% da mente correspondem ao subconsciente, um vasto campo de possibilidades. É ele que regula funções vitais como batimentos cardíacos, respiração, sono e digestão. Também armazena nossos hábitos, crenças, emoções, sentimentos, intuição, sabedoria e padrões comportamentais, além da memória de longo prazo.
Ākāśa e Inconsciente Coletivo
De acordo com Carl Jung, há ainda o inconsciente coletivo: uma dimensão da mente que contém os registros do nosso passado evolutivo, incluindo memórias ancestrais e arquétipos. É também o que nos conecta a todos os seres humanos, formando um terreno comum de experiências e símbolos universais (como uma teia que conecta tudo e todos). No Yoga, essa dimensão é chamada de Ākāśa, o espaço que tudo contém e onde todas as experiências estão registradas.
Eu e os Pensamentos
Por trás de todas essas camadas da mente está o Eu, aquele que buscamos descobrir por meio da meditação. Para entender a diferença entre o consciente e o subconsciente, a psicologia oferece uma metáfora simples:
O jardineiro representa o consciente.
O jardim simboliza o subconsciente.
Diariamente, "plantamos sementes" no subconsciente por meio de nossos pensamentos. Essas sementes se transformam em padrões de comportamento e hábitos. O subconsciente não julga; ele apenas executa o que foi plantado.
Escolhendo as Sementes
É essencial compreender que todo pensamento cria uma imagem mental. Mesmo que seja impossível parar de pensar (já que a natureza da mente é gerar pensamentos), podemos escolher com quais imagens vamos alimentar a mente.
Por exemplo, ao repetir afirmações positivas como "Eu tenho saúde perfeita" ou "Eu sou capaz e confiante", estamos reprogramando o subconsciente de forma consciente.
O Observador Interno
No Yoga, śākṣī refere-se à Consciência Testemunha, aquela que observa, sem se envolver, os pensamentos e as emoções que surgem na mente.
O entendimento de que há um espaço entre o observador e o que é observado nos ajuda a não nos identificarmos com os pensamentos. Quando reconhecemos que "pensamento é apenas pensamento", começamos a nos distanciar das emoções negativas e a nos conectar à paz profunda que reside além das oscilações mentais.
Esse distanciamento nos permite vivenciar a realidade sem nos perdermos nas reações automáticas, cultivando uma sensação de serenidade e autocompreensão.
Pensar é Sofrer?
Pensar, em si, não é sinônimo de sofrimento. O sofrimento surge quando nos identificamos com os pensamentos, acreditando que eles definem quem somos. Como aponta o professor Pedro Kupfer, "o sofrimento ocorre quando confundimos o conteúdo dos pensamentos com o Ser. A verdade é que os pensamentos existem porque o Ser é."
Desenvolver uma postura de observador interno e selecionar conscientemente os tipos de imagens que enviamos à mente ajuda a construir um estado meditativo. Esse processo pode trazer à tona complexos enraizados no subconsciente, gerando algum desconforto temporário. Contudo, ao iluminarmos essas latências, removemos medos e padrões negativos, abrindo espaço para novos hábitos e uma vida mais plena.
O Caminho da Contemplação
Agora que compreendemos um pouco mais sobre a mente e o propósito da meditação, estamos prontos para iniciar ou mergulhar um pouco mais profundo neste caminho para o autoconhecimento.
As próximas etapas envolvem práticas de abstração sensorial e concentração, que nos ajudam a acalmar a mente, focar a atenção e nos preparar para o estado de contemplação — onde encontramos o verdadeiro Eu e a felicidade que reside em nós.
Vamos colocar esse conhecimento em prática?
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Hariḥ Oṁ
Patricia de Abreu ॐ