top of page

Asmitā, o egoísmo

Para se lembrar de quem você é de fato, primeiro, você precisa começar a se dar conta de quem você não é!


Namaste, tudo bem?


Quase nunca avidyā (aprenda aqui) se expressa como ela mesma. Como uma névoa que impede a nossa visão, a falsa compreensão sobre quem somos se esconde em nós; e suas ramificações são mais fáceis de serem identificadas que a própria causa do problema.


“Raramente temos uma sensação imediata e direta de que a nossa percepção está errada ou obscurecida. Quase nunca avidyā se expressa como ela mesma” T.K.V Desikachar


A primeira ramificação de avidyā é o egoísmo, é viver dominado pelo ego e pela falsa identificação com ele. Essa identificação equivocado traz muitos conflitos aos relacionamentos pois estamos sempre tentando estar certos, sermos melhores, mais especiais, etc… e quando algo não sai como planejamos, sofremos.


“A falsa identidade se estabelece quando consideramos a atividade mental como a verdadeira fonte da percepção.” Yoga Sūtra 2.6


aurora boreal

Mas o que é o Ego?


Para o Yoga, a mente é vista como um complexo, considerada um instrumento interno e é chamado antaḥkāraṇa.


O conceito de antaḥkāraṇa é fundamental para entender a psicologia do Yoga e a estrutura da mente conforme descrita nas tradições védicas e iogues.


O antaḥkāraṇa é geralmente dividido em quatro componentes principais:


  1. Manas: O aspecto da mente que lida com o pensamento, cognição e os processos racionais. É responsável pela cognição e pelos processos deliberativos, incluindo a dúvida e a coordenação dos sentidos.

  2. Buddhi: A parte da mente que se relaciona com o intelecto, discernimento e a tomada de decisões. A buddhi é responsável pela discriminação, julgamento e sabedoria.

  3. Ahaṁkāra: O "eu individuo" ou "ego", que se refere à identidade individual e ao senso de separação. O ahaṁkāra é a função da mente que identifica e atribui experiências ao "eu" pessoal.

  4. Citta: Refere-se à memória e ao armazém de impressões mentais (saṃskāras). É a mente subconsciente, onde todas as experiências passadas são armazenadas.


"A natureza da mente é a dúvida. A natureza do intelecto é a decisão. A natureza do ego é esta noção de que eu faço. A natureza da memória é guardar aquilo que já foi vivido.”  Tattvabodhaḥ


Esses quatro componentes trabalham juntos para formar a experiência completa da mente humana.


O antaḥkāraṇa é considerado um intermediário entre o corpo denso e o Eu superior (ātman), funcionando como uma ponte entre os aspectos mais densos e sutis da existência.


Através das práticas de Yoga, busca-se purificar a mente, assim como ter um certo comando sobre ela. Com um antaḥkāraṇa “purificado” (uma mente sem equivocações ou sofrimentos) é possível alcançar estados mais elevados de consciência e, eventualmente, a iluminação espiritual.


O ego então, é uma parte do antaḥkāraṇa e descartá-lo não é uma opção já que ele faz parte do psiquismo. Devido ao ego podemos ter profissões diferentes, vontades e desejos diferentes, temos pontos de vista diferentes. É pelo ego que fazemos escolhas, que decidimos ir as práticas e Yoga ou ainda escolhemos o que é certo e errado para nós.


Dependemos do ego para viver, então basta aceitarmos o fato de que não há nada de errado com ele. É sobre ir aprendendo a criar uma relação de suporte com ele e não de identificação, já que o erro está na falsa associação.


Se eu te perguntar agora, “quem é você?”; você provavelmente irá responder de acordo com as coisas que você faz (sou professora, estou trabalhando… tenho… desejo…. etc.). Mas o “fazer" é transitório e o que queremos é o conhecimento do eterno, do atemporal, e não daquilo que mais cedo ou mais tarde vai deixar de existir.


Nesta equivocação, associamos a nossa felicidade a satisfação do nosso ego e quando não estamos satisfeitos nos tornamos vítimas do sofrimento.


"Quando possui ou desfruta as coisas que adora, está feliz. Quando lhe faltam, fica triste e ansioso. Uma pessoa assim, só conquistará sua mente e se sentirá realizado quando desenvolver "sama bhava" (sama = igual e bhava = atitude psíquica), ou seja, equanimidade psíquica. Só assim conhecerá satisfação, contentamento, equilíbrio e equidistância dos opostos da existência." Professor Hermógenes 


Assim, para se livrar desta equivocação, para se lembrar de quem você é de fato, primeiro, você precisa começar a se dar conta de quem você não é!


É fundamental ter clareza em relação a função do ego e pincipalmente parar de associar a felicidade a ele. Você não quer uma felicidade que vem e vai não é mesmo? Então comece a entender que você pode ser feliz independentemente de realizar ou não desejos, de se relacionar ou não com pessoas, de ter ou não controle sobre tudo na vida.


"O ego bebe as águas doces e amargas, desfrutando das doces, rejeitando as amargas. O Ser bebe as águas doces e amargas, sem desfrutá-las nem rejeitá-las. O ego afunda nas trevas, enquanto que o Ser mergulha na luz.  Kaṭha Upaniṣad: (I:3.1)


mulher com ansiedade e se sentindo confusa

E agora?


Aceitação e clareza em relação a mente e o psiquismo, são necessárias e indicam que estamos preparadas para o conhecimento sobre nós mesmas, abertas para o reconhecimento de nossa verdadeira natureza!


Isso é Autoconhecimento. E para este reconhecimento damos grande importância ao Yoga como possibilidade prática para se chegar a essa compreensão. A prática, que sempre vai para além das posturas, nos ajuda a discernir entre quem pensamos ser e quem somos em realidade.


Vale lembrar que a obtenção da clareza é um processo gradual e demanda tempo, como ensina Patañjali no Yoga Sūtra, "prática constante e desapego, não há outro caminho." 


"Com o esforço na prática, aprimoramos nosso discernimento e desenvolvemos disciplina e clareza de percepção. E um ego disciplinado e lúcido é capaz de discernir não só a melhor atitude com que agir no mundo, mas também a meta – mokṣa – que nos liberta do sofrimento pelos desejos e aversões." Julia Rebuzzi. 


Como aplicar este conhecimento no dia a dia?


“Desista de ter razão. Uma quantidade enorme de energia fica disponível quando você desiste de ter razão.” Deepak Chopra


Abrir mão da necessidade de ter razão não significa que você não tenha seu ponto de vista. Porém, você pode abrir mão da necessidade de defender o seu ponto de vista.

Para além da prática de Yoga que possibilita a correta compreensão sobre a pura consciência, podemos aplicar o ensinamento “desista de ter razão”, ensinado por Deepak Chopra, pois quem tem razão é o ego e não o Ser, e se “soltar” do ego, desistindo de ter razão, pode ser um caminho.


"Quando você está dominado pelo ego, a rendição soa como uma total derrota. As condições que deixam o ego feliz acabam por fazer você muito infeliz. Não há alegria em estar no comando, não há amor em controlar os outros, não há crescimento em defender a linha entre o certo e o errado. Quando estiver tentando a me ver como vítima, lembrarei que sou o criador das circunstancia que vejo. Perguntarei a mim mesmo: “o que estou fazendo neste estado de consciência em que estou criando isso?” apenas por fazer essa pergunta, mudarei do estado de vítima para o de criador.” Deepak Chopra


Parece simples mas a gente sabe que não é, são muitas crenças a serem trabalhadas e vai demandar esforço (tapas) e muita compreensão, compaixão e amorosidade consigo mesma e com o outro.


“Somos todos uma única consciência, com maneiras singulares de vivenciar o mundo. A completude é um estado profundo de paz e felicidade.” Deepak Chopra

“A unidade é o entendimento de que, em um nível mais profundo, todos nós compartilhamos da mesma consciencia, que é a fonte de todo o amor e alegria.”Deepak Chopra


Quer se aprofundar?

Pratique Yoga comigo. Inscreva-se aqui: Soma Escola de Yoga


É isso :)


Hariḥ Oṁ

Patricia de Abreu ॐ

bottom of page