“O apego excessivo está baseado na suposição de que o objeto contribuirá para a felicidade eterna.” Yoga Sūtra 2.7
Namaste, tudo bem?
Rāga e Dveṣa são conceitos fundamentais no Yoga que merecem uma compreensão aprofundada. Esses termos representam dois dos cinco kleśas, conhecidos como causas de sofrimento ou obstáculos no caminho espiritual.
Explorar o significado de Rāga (apego) e Dveṣa (aversão) é essencial para quem busca superar os desafios internos e alcançar uma vida mais plena e consciente.
Os 5 kleśas são:
Avidyā (Ignorância): A ignorância em relação a verdadeira natureza humana. É a raiz dos outros kleśas. (Leia + Aqui)
Asmita (Egoísmo): A confusão entre o “Eu Maior” e “Eu Ego”. (Leia + Aqui)
Rāga (Apego): O desejo ou apego a prazeres sensoriais ou experiências agradáveis.
Dveṣa (Aversão): A aversão ou repulsa por experiências desagradáveis ou dolorosas.
Abhiniveśa (Medo da Morte): O medo instintivo e profundo da morte.
Ragā (Desejo)
Ragā pode ser traduzido como "desejo", "apego" ou "paixão" por prazeres sensoriais. Refere-se ao apego intenso a objetos, pessoas, situações ou estados que proporcionam prazer. Esse desejo pode ser físico, emocional ou mental.
sukhānuśayī rāgaḥ | “O apego excessivo está baseado na suposição de que o objeto contribuirá para a felicidade eterna.” Yoga Sūtra 2.7
No contexto espiritual, o desejo é visto como uma fonte de sofrimento porque gera apego. O apego pode levar a uma busca constante por experiências agradáveis, o que pode causar sofrimento quando essas experiências não são alcançadas ou mantidas.
Além disso, o apego pode criar um ciclo de desejo insaciável, aumentando a insatisfação e a ansiedade.
“Queremos algo hoje porque foi bom ontem, não porque precisamos agora. Queremos coisas que não temos; o que temos não é suficiente e queremos mais. Queremos guardar o que devemos dar. Isso é Ragā” - T.K.V Desikachar
E se acreditamos que objetos e relacionamentos trazem felicidade, e preferimos a felicidade à tristeza, como já dizia Vinicius de Moraes - “É melhor ser alegre que ser triste. Alegria é a melhor coisa que existe…” - ragā definitivamente se torna um obstáculo no nosso caminho na busca da felicidade.
“Quando um objeto satisfaz um desejo, ele proporciona um momento de felicidade. Por causa dessa experiência, a posse dos objetos pode se tornar muito importante, até indispensável, a qualquer custo. O resultado pode ser a perda de aspectos essenciais da vida e a futura infelicidade." T.K.V Desikachar
No budismo, Ragā também é uma das três raízes do sofrimento (também conhecidas como os "Três Venenos"), junto com a ignorância (Avidyā) e a aversão (Dveṣa). Superar Ragā implica desenvolver desapego e contentamento, aceitando a impermanência de todas as coisas.
Dveṣa (Rejeição)
Dveṣa pode ser traduzido como "aversão", "ódio" ou "rejeição". Representa a resistência ou repulsa a objetos, pessoas, situações ou estados que causam dor ou desprazer. Essa aversão pode se manifestar como raiva, ressentimento ou qualquer forma de rejeição.
duḥkhānuśayī dveṣa | “Aversões sem razão são normalmente o resultado de experiências dolorosas sofridas no passado, ligadas a determinados objetos e situações.” Yoga Sūtra 2.8
Dveṣa é de certo modo o oposto de ragā. Se passarmos por uma experiência difícil vamos sentir medo de repeti-la. Com medo de sentir dor passamos a rejeitar pessoas, pensamentos, e ambientes relacionados aquela experiência dolorosa.
"Essas aversões persistem, mesmo após as circunstancia que causaram essas experiências desagradáveis terem mudado ou desaparecido.” T.K.V Desikachar
Dveṣa também nos faz rejeitar coisas desconhecidas, que não são familiares, mesmo que não tenhamos historia nenhuma com elas.
Assim como o desejo, a aversão é vista como uma causa de sofrimento, pois gera conflito interno e externo.
No budismo, superar Dveṣa envolve cultivar a paciência, a aceitação e a compaixão, reconhecendo que a aversão intensifica o sofrimento.
O Equilíbrio entre Ragā e Dveṣa
Então não posso ter desejos, sonhar, manifestar nem tampouco rejeitar?
Claro que pode, pois não se trata de ter ou não ter não ter mais desejos! O equilíbrio acontece quando você deixa de atrelar a sua felicidade aos apegos e aversões.
É por isso que reconhecer-se em essência resolve o problema, pois continuaremos a desejar e a manifestar, a nos sentirmos satisfeitos, mas também insatisfeitos; pois para além das alegrias e tristezas momentâneas da vida nenhuma situação poderá mudar a felicidade que somos essencialmente.
A Bhagavad Gītā - um texto filosófico e espiritual que consiste em um diálogo entre o príncipe Arjuna e Kṛṣṇa, seu guru - ensina:
sukha-duḥkhe same kṛitvā lābhālābhau jayājayautato yuddhāya yujyasva naivaṁ pāpam avāpsyasi
"Considera prazer e dor, ganho e perda, vitória e derrota como iguais, e então prepara-te para a batalha. Agindo dessa maneira, não incorrerás em pecado."
Manter a equanimidade para além das adversidades é o objetivo do Yoga. Podemos considerar que a prática tem como finalidade te ajudar a superar esses kleśas, construindo uma mente equilibrada e que não será mais dominada pelo desejo nem pela aversão.
Com clareza, poderemos encontrar um caminho do meio, onde a paz e a serenidade interior prevaleçam.
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Hariḥ Oṁ
Patricia de Abreu ॐ