Encontrar o elo natural entre a respiração e o movimento é o aspecto mais importante da prática de Yoga...
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A prática de Yoga não se resume apenas às posturas; ela é feita de conexões profundas e uma das mais importantes é a conexão entre o corpo, a respiração consciente e a atitude mental adequada.
A respiração está intrinsecamente ligada à mente e aos nossos sentimentos, portanto, se queremos uma mente preparada para o autoconhecimento, será necessário, primeiro, olhar para a qualidade da nossa respiração.
"Se estamos com dor, isso aparece na nossa respiração. Se estamos distraídos, perdemos o controle da respiração. A respiração é o elo entre o corpo interior e o exterior." - T.K.V. Desikachar
Assim, após encontrar o equilíbrio no āsana (sthira sukham - firmeza e conforto), é hora de respirar de forma adequada para, enfim, experimentarmos a verdadeira essência da prática de Yoga.
Neste artigo, vamos nos aprofundar nessa conexão e na importância da respiração consciente, explorando como ela pode trazer não apenas melhorias na prática em cima do tapete, mas também promover uma vida mais tranquila e equilibrada.
Tasmin sati śvāsapraśvāsayorgativicchedaḥ prāṇāyāmaḥ || Yoga Sūtra 2.49
“Quando está (a conquista da postura) acontece, [deve haver a prática de] prāṇāyāma, que é a regulação do caminho de inspiração e expiração."
A palavra prāṇāyāma é composta por duas palavras: prāṇa e āyāma. Āyāma significa extensão ou expansão, e prāṇa é uma força vital que permeia todo o corpo. Podemos também traduzir prāṇa como energia vital , bioenergia, força vital, vida, a força que permite a vida.
“Mais sutil do que dominar o corpo físico com uma postura é o comando sobre a respiração. Prāṇāyāma, os exercícios de respiração para regular o prāṇā, a atividade fisiológica do corpo, são muito eficazes para ajudar a lidar com a mente." Gloria Arieira.
Os exercícios de prāṇāyāma regulam o prāṇa manipulando o tempo da respiração, a duração da inalação, exalação e retenção da respiração, e podem ser executados em diferentes posturas corporais.
Além disso, como uma ponte que conecta o corpo à mente, o prāṇāyāma tem ligação direta com o psiquismo e o sistema nervoso central, promovendo diversos benefícios imediatos, como relaxamento profundo, alívio da ansiedade e do estresse, entre outros. Além de contribuir para o aumento da força vital no corpo, o prāṇāyāma estabiliza nossa mente para que possamos agir no mundo com calma e não de forma automática e estressada.
cale vāte calaṁ cittaṁ niścale niścalaṁ bhavet|| yogī sthāṇutvamāpnoti tato vāyuṁ nirodhayet || Haṭhayoga Pradīpikā 2 ||
“Enquanto a respiração for irregular, a mente permanecerá instável; quando a respiração se acalmar, a mente permanecerá imóvel e o yogin alcançará a equanimidade. Por conseguinte, deve-se controlar a respiração [pela prática de prāṇāyāma].”
Coordenando a respiração com o movimento
“O primeiro passo da nossa prática de Yoga é ligar conscientemente a respiração ao corpo. Fazemos isso permitindo que cada movimento seja conduzido pela respiração enquanto praticamos āsana-s. A ligação correta entre respiração e movimento é a base de toda a prática de Yoga.” — T.K.V Desikachar.
Devido à respiração ser um processo involuntário do corpo, na maior parte das vezes não estamos conscientes dela. Nós simplesmente respiramos, sem pensar, mas para o prāṇāyāma é necessário o uso da vontade; deve haver um comando por parte da mente, para que assim a respiração e o movimento sejam coordenados.
A respiração conscientemente dirigida apoia e fortalece a coordenação natural entre a respiração e o movimento e pode ser considerada uma forma de meditação. Corpo, respiração e mente em integração nos colocam em um “estado de união”.
"A mente deve seguir atentamente a união deles. Quando fazemos isso, inspiração e expiração não sao mais automáticas, mas se tornam um processo consciente. Encontrar o elo natural entre a respiração e o movimento é o aspecto mais importante da prática.” T.K.V Desikachar.
Embora não exista consenso sobre a melhor forma de respirar, é importante primeiramente entendermos as fases da respiração e, posteriormente, experimentarmos ambas as possibilidades, escolhendo a maneira com a qual nos sentimos melhor.
Entenda as fases:
1.Pūraka - Inspiração
2.Rechaka - Expiração
3.Kūmbhaka - Retenção
3.1.Antara Kūmbhaka - Retenção com os pulmões cheios
3.2.Bāhya Kūmbhaka - Retenção com os pulmões vazios.
Segundo o professor Pedro Kupfer; “Há três fases na respiração: alta, média e baixa, e essas três fases devem ser feitas seguindo uma ordem determinada. Essa ordem seria de baixo para cima ao inspirar, e de cima para baixo ao expirar. Nove entre dez professores de Yoga irão ensinar a respiração do Yoga dessa forma.”
No entanto, Desikachar apresenta no livro “O Coração do Yoga” a forma oposta, que eu particularmente prefiro, já que esta maneira me traz a sensação de crescer e expandir ao inspirar e de me recolher ao exalar.
"Da posição de descanso (A), o diafragma move-se para para baixo na inalação (B). Depois de os pulmões estarem cheios, o diafragma volta para a sua posição de descanso. No processo, uma inspiração profunda expande a caixa torácica fazendo as costelas subirem, movendo assim o diafragma para baixo e endireitando levemente a coluna nessa região.
Numa expiração profunda (C), acontece o oposto: a parte frontal do ventre move-se em direção à coluna, o diafragma sobe e a coluna volta à posição inicial. Sendo assim, a inspiração começa no peito e termina no abdômen e a expiração começa no abdômen e termina no peito.” T.K.V. Desikachar
Assim, no intuito de ampliar a respiração natural enquanto a sincronizamos com o movimento, em todas as posturas de flexão à frente (quando nos dobramos para baixo e para frente) devemos exalar, e quando fazemos as extensões (quando nos dobramos para trás) devemos combinar com uma inspiração, pois o movimento das costelas eleva o peito e faz com que a coluna se curve para trás. Segundo Desikachar, respirando dessa maneira, você tornará todos os movimentos mais fáceis e eficazes.
Segundo o autor, essa simples técnica respiratória, junto com a integração da respiração e do movimento, é um meio de trazer maior qualidade à prática de Yoga. Ele complementa: “Experimente os dois métodos e sinta a diferença, escolha o que for melhor para você.”
Observação: Não devemos usar o termo “RETROFLEXÃO”; essa palavra foi erroneamente traduzida no passado e não pertence ao vocabulário da anatomia e fisiologia. A “dobra” para trás deve ser chamada de extensão ou hiperextensão.
Fora isso, há outras regras básicas para alinhar a respiração e o movimento, mas estas serão exploradas em aula prática.
“Nós não inspiramos e expiramos simplesmente, sem atenção, mas nos certificamos de que a respiração é que inicia o movimento. A duração da respiração determinará a velocidade do movimento.” T.K.V. Desikachar
Devemos ter em mente que, sem a conexão do corpo, mente e respiração, estamos em um modo mecânico e em desacordo com o propósito maior do Yoga, que é a Presença!
Mas calma, essa integração de respiração com movimento torna-se bem natural com o tempo e por isso seguimos praticando….
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Hariḥ Oṁ
Patricia de Abreu ॐ